“Doze Homens e Uma Sentença” inspira novo espetáculo dos formandos de Teatro do Cefart, que reflete sobre a força da palavra, as relações de poder e o direito à justiça
- 12/12/2024
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Foto: Arthur Santana
Montagem dos alunos do turno da manhã do Curso Técnico em Teatro do Cefart esta em cartaz gratuitamente na Funarte-MG, até o dia 15 de dezembro, às 19h; direção é de Guilherme Diniz e Jhonny Salaberg
“Doze Homens e uma Sentença” (1957), do diretor Sidney Lumet – cujo centenário é celebrado este ano e foi tema de uma mostra no Cine Humberto Mauro em maio – se tornou um dos clássicos do cinema norte-americano e um dos filmes de tribunal mais aclamados. O que poucos sabem é que a trama é uma adaptação de uma peça de 1954 escrita por Reginald Rose, roteirista e dramaturgo que posteriormente venceu um Emmy pelo roteiro adaptado, além de ter sido indicado ao Oscar. A peça original inspirou o novo espetáculo dos alunos do Curso Técnico em Teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart), “Juízo”.
A história é a mesma do filme: doze jurados escolhidos aleatoriamente precisam decidir se um adolescente acusado de matar o pai é culpado ou inocente. A maioria está decidida a condená-lo à morte, mas um deles começa a questionar se o jovem de fato cometeu o crime. O veredito, porém, precisaria ser unânime para condená-lo ou não. Sob a direção de Guilherme Diniz e Jhonny Salaberg, a peça será encenada em duas semanas: na primeira, será nos dias 5, 6 e 8 de dezembro e, na segunda, de 11 a 15 de dezembro. As apresentações ocorrerão na Funarte-MG, no centro de Belo Horizonte, de quinta a domingo, às 19h. A classificação indicativa é de 14 anos e a entrada é gratuita, com retirada de ingressos a partir de 1h antes do início do espetáculo. Nas sessões de domingo, haverá intérprete de Libras.
O Ministério da Cultura, o Governo de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, por meio da Fundação Clóvis Salgado, apresentam o espetáculo “Juízo”. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm Patrocínio Master da Cemig e Instituto Cultural Vale, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA - Cultura e Patrimônio. Governo Federal, Brasil. União e Reconstrução. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo.
Uma obra que suscita reflexões – Adaptado de um texto escrito em 1954, durante um período de intensificação das lutas pelos Direitos Civis nos Estados Unidos, “Juízo” atualiza a discussão sobre justiça, relações de poder e as desigualdades que permeiam a sociedade contemporânea. O convite para dirigir a peça representou um grande desafio para Guilherme Diniz e Jhonny Salaberg, tanto por se tratar da estreia de ambos nessa função quanto pela oportunidade de trabalharem juntos. A turma procurou-os com o objetivo de pesquisar, de forma conjunta, noções históricas de poder e a invenção do “outro” como uma ideologia que busca justificar hierarquizações sociais. Após debates e reflexões, optou-se por “Doze Homens e Uma Sentença”, por tratar das relações de poder no contexto jurídico, um dos âmbitos em que as desigualdades sociopolíticas se manifestam com mais evidência.
Para se aproximarem da obra, diretores e elenco mergulharam em um laboratório teórico-prático, analisando as estruturas dramatúrgicas do texto e explorando as materialidades emergentes nas relações entre corpo, espaço, verbo e ação. O trabalho priorizou o estudo da palavra em suas dimensões poéticas, sinestésicas e físicas, utilizando-a como o principal elemento para criar uma cena que dialoga tanto com os personagens quanto com o público. A montagem explora a articulação verbal, o ritmo das frases e os maneirismos na pronúncia. “Aí está o coração dessa montagem: o osso da palavra. Em torno de uma mesa, o diálogo se instaura, ora pacífico e apaziguador, ora espinhoso e explosivo. No centro, o destino de um adolescente entre a vida e a morte, a culpa e a inocência, atraindo o olhar para as complexidades sociais constantemente atualizadas em épocas e espaços distintos”, adiantam os diretores.
As personagens, identificadas apenas por números, são esboços de tipos sociais sem histórias ou personalidades completamente definidas, desafiando o elenco a preenchê-las. Em julho, a turma encenou o espetáculo “Abarrotado”, que é ambientado em um boteco tipicamente brasileiro e retrata, com tons de realismo mágico, uma família abarrotada de desejos, sonhos e verborragias. As duas peças se propõem a serem apresentadas em um formato de arena, mas a abordagem de “Juízo” é diferente tanto nesse aspecto quanto na questão dos elementos fantasiosos.
“No caso de ‘Juízo’, queremos o público próximo, engajado com o que está acontecendo, mas sem participar diretamente da ação cênica, algo que acontecia em ‘Abarrotado’. No espetáculo anterior, tivemos que aprender a nos abrir e abraçar o público, trazendo-o para dentro do jogo. Já em ‘Juízo’, a proposta é o extremo oposto: como tornar o jogo interessante o suficiente para o público assistir, mas sem que ele participe ativamente da ação. Esse é um desafio por si só, porque envolve manter a quarta parede. É olhar para uma plateia que está ali, que você consegue ver, às vezes composta por pessoas que você conhece, mas, para a personagem, essas pessoas são apenas uma parede. Existe uma relação muito interessante entre essas duas abordagens, e é curioso ‘fechar essa porta’ para o público em ‘Juízo’, uma porta que mantivemos aberta em ‘Abarrotado’. E há algo muito bonito em apresentarmos duas peças em formato de arena, no mesmo espaço. Isso traz uma sensação muito boa de continuidade. Em alguma medida, o que vivemos em ‘Abarrotado’ nos ajudou muito neste processo, por mais diferentes que as peças possam parecer à primeira vista”, conta o aluno Pedro Trad.
Ficha técnica do espetáculo “Juízo” ● Elenco: Allan Visant, Ari Beles, Beatriz Regina, Carlos Lin, Felipe Jawa, Luan Olímpio, Marcela Félix, Pedro Trad, Thanya Canela, Thawine Vieira e Will Jadir. ● Texto: Reginald Rose ● Dramaturgismo: Guilherme Diniz e Jhonny Salaberg ● Assistência de direção: Amora Tito ● Voz off: Jhonny Salaberg ● Preparação corporal e Direção de movimento: Luiz Carlos Garrocho ● Preparação vocal: Isabela Arvelos ● Direção de Arte (cenografia e figurino): Luiz Dias ● Assistência de cenografia e figurino: Davy Rausch, Isabella França, Isabella Ibrahim e Raquel Carvalho ● Cenotécnico: Helvécio Isabel ● Trilha sonora original: Black Josie ● Sample "Onqotô" e "Parabelo": José Miguel Wisnick ● Operação de som: DJ Soulpolis ● Desenho de luz: Veec Santos ● Operação de luz: Gabriela Meneses ● Produção: Fabiana Brasil ● Identidade visual: Felipe Jawa e Pedro Trad