Jovens da região do Barreiro refletem sobre as Masculinidades Negras através da música em oficinas gratuitas
- 24/10/2024
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Foto: Lina Mintz
A oficina, inspirada na obra “Águas de homens pretos”, de Allan da Rosa, reflete sobre a complexidade de ser um homem negro no Brasil a partir das canções de compositores negros
Pensar nas masculinidades negras e nos estereótipos que carregam é um tema de grande sensibilidade e relevância, especialmente quando abordado com a juventude. No dia 22 de outubro, o CRAS Petrópolis, localizado na Rua Frederico Boy Prussiano, 137, no bairro Petrópolis em Belo Horizonte, sediou uma oficina do Projeto Xia 2024. Guiada por Pedro Henrique, a atividade usa das letras de compositores brasileiros como instrumento para discutir a complexidade de ser um homem negro no Brasil, passando por reflexões sobre machismo, marginalização e utilizando a música como principal ferramenta para nortear o diálogo com os jovens presentes.
As associações racistas entre masculinidade negra e agressividade apontam estereótipos que associam homens negros à violência e falta de sensibilidade, desumanizando e anulando a diversidade de suas experiências e emoções. Com a abordagem de Pedro Henrique, as oficinas do XIA 2024 visam desconstruir essas imagens, utilizando a música como ferramenta para abrir debates junto à juventude. Ao trazer letras de compositores como Mano Brown e Luiz Gonzaga, a ação permite que os participantes se conectem com suas próprias vivências, ao mesmo tempo que reflete sobre o que significa ser um homem negro em um Brasil que frequentemente os marginaliza.
A Abordagem
As oficinas são conduzidas por Pedro Henrique, doutorando em Estudos Linguísticos, pesquisador e ativista da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Pedro realiza oficinas de leitura e escrita com jovens em unidades socioeducativas e prisionais, e pessoas em situação de rua, orientado pelos pensamentos negros, anarquistas, contracoloniais e pelo abolicionismo penal. Inspirado na obra Águas de homens pretos (2021), de Allan da Rosa, ele convida para estes encontros Diego Poça, ator, pesquisador e professor de teatro, que traz sua expertise no estudo das relações entre som e cena. Juntos, os artistas proporcionam um espaço de reflexão crítica e artística, unindo educação e arte em uma prática transformadora.
No primeiro dia da oficina, que contou com a participação de cerca de 30 jovens, o ator Diego Poça destacou o sucesso da abordagem utilizada. Segundo ele, o uso de músicas trouxe uma conexão especial com os jovens. "A abordagem através das músicas foi, sim, fantástica. O ritmo era muito próximo da linguagem do grupo, dos adolescentes atendidos, com uma pegada bem periférica, o que gerou uma proximidade muito boa.”A partir das letras, tratamos de temas como representatividade e a ideia de referência: por que esse artista me representa? Que forma de ser homem ele traz na sua música? Foi uma abordagem leve, que teve uma ótima recepção por parte dos adolescentes", comenta,
Próxima oficina
A próxima oficina será realizada no dia 29 de outubro, atendendo adolescentes do CRAS Vila Cemig, também na região do Barreiro. Diego enfatiza que os temas da masculinidade, machismo e patriarcado são complexos e sensíveis, mas Pedro Henrique descobriu na arte uma maneira eficaz de conduzir essa discussão com os adolescentes de forma clara e interativa.
O Projeto Xia
O Xia 2024 - Programação Cultural, (LPG: 90838/2023 - Lei Paulo Gustavo) é realizado pelo Instituto Se Toque e utiliza a arte como ferramenta de transformação social para adolescentes em situação de vulnerabilidade. O projeto promove espaços de experimentação artística, troca de saberes e investigação de corpos e expressões dissidentes, envolvendo também crianças, familiares e responsáveis. O XIA busca ampliar o acesso à arte, cultura e lazer, incentivando o desenvolvimento integral dos participantes com o apoio de formações interdisciplinares conduzidas por profissionais especializados.
Sobre o Se Toque
O Instituto Se Toque, criado em 2014 pelas artistas Catarina Maruaia e Lina Mintz, dedica-se à pesquisa e experimentação em arte, gênero e sexualidade. Através de oficinas, vivências e projetos culturais, o Instituto atua beneficiando mulheres, jovens e corpos dissidentes. Formalizado como Organização Sociocultural em 2021, seu trabalho busca promover a igualdade de gênero e o bem-estar coletivo, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
SERVIÇO: Oficina Choro, suor e gozo: as águas nas canções de homens pretos
Data: 29 de outubro
Horário: 14:30 às 17:30
Local: CRAS Vila Cemig. Endereço: R. Faisão, 1071 - Flávio Marques Lisboa, Belo Horizonte - MG, 30624-080.
Gratuito.