Kudiá: Seminário de Comida Afro-brasileira
- 14/10/2024
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Foto: Tainá Evaristo
Oferecido de forma gratuita, o seminário conta com palestras e oficinas sobre o acarajé, pockets show de Maíra Baldaia, Anárvore e Afoxé Bandarerê.
Nos dias 18 e 19 de outubro de 2024, Belo Horizonte será palco do Kudiá: Seminário de Comida Afro-brasileira, um evento cultural inédito que celebra e preserva as tradições afro-brasileiras, com destaque para a rica gastronomia dos terreiros de candomblé. Organizado pelo terreiro e Associação Sociocultural Nzo Jindanji Kuna N'kosi, o seminário será realizado no Centro Cultural Urucuia e tem como foco principal a valorização do acarajé, uma iguaria que carrega em si séculos de história, fé e resistência cultural.
O Kudiá não é apenas um evento gastronômico, mas uma ação de resistência cultural e preservação das heranças afrobrasileiras. O nome “Kudiá” é uma palavra do kimbundu, de origem bantu, cujo significado está no gesto de comer e partilhar a comida com o próximo. O seminário contará com mesas redondas e rodas de conversa que vão discutir a história do acarajé, sua importância litúrgica nos terreiros de candomblé e o papel da comida na resistência e na luta pela identidade afro-brasileira. Além disso, o evento terá um compromisso com a inclusão social, garantindo acessibilidade para pessoas com deficiência visual, por meio de audiodescrição em todas as atividades, além de tradução simultânea em libras.
O evento terá início na sexta-feira (18/10), acontecendo entre 18h30 e 21h, com uma programação teórica, e continuará no sábado (19/10), das 09h às 12h, com uma oficina e degustação de diferentes pratos. Durante a oficina, o público terá a oportunidade de aprender o processo de preparo do acarajé e seus acompanhamentos tradicionais, como o vatapá, caruru, camarão e salada de tomates, sob a orientação de Kota Mebagande (Ramon Nabôr). Além de aprender sobre o processo, os participantes também poderão degustar o acarajé recém-preparado, vivendo a experiência completa de saborear essa iguaria que conecta o sagrado ao cotidiano. As inscrições podem ser feitas neste link.
A Culinária como Expressão de Fé e Resistência
Para Nengua Monasanje (Ângela Miguel), diretora litúrgica da Nzo Jindanji Kuna N’kosi e Mestra da Cultura Popular de Belo Horizonte e Contagem, a cozinha é o coração do terreiro. “Sem a cozinha, não há candomblé. A comida que oferecemos aos Nkisis (divindades) é carregada de energia e amor, e tudo o que é preparado ali deve ter uma intenção sagrada. A energia que emanamos através da comida é transmitida para quem recebe os cuidados espirituais,” afirma. Ela ainda ressalta que o cuidado com o preparo dos alimentos não só zela pelas divindades, mas também pela comunidade: “A gente cozinha para o santo, mas também para a matéria. Aqui no terreiro, ninguém passa fome. Garantimos que todos estejam bem alimentados, pois isso é essencial para a nossa prática.”
Makota Kinajenu (Andréia Roseno), coordenadora geral do evento, destaca o caráter simbólico e sagrado da comida nos terreiros de candomblé: “O Kudiá reafirma a importância da comida como um elemento sagrado e cultural, que conecta o passado ao presente, mantendo viva a memória e a luta de nossos ancestrais. A comida de terreiro, como o acarajé, carrega em si o poder de alimentar tanto o corpo quanto a alma, trazendo consigo valores de fé, resistência e pertencimento.”
A oficina prática será uma oportunidade única de interação cultural, onde os participantes não apenas aprenderão a preparar o acarajé, mas também poderão entender o contexto espiritual que envolve o prato. Segundo Kota Mabgande (Ramon Nabôr), membro da Nzó Jindanji Kuna Nkos’i e liderança da Nzó Mona Jindanji (Betim), “preparar o acarajé não é só uma questão culinária, é um ritual de conexão com a ancestralidade, de respeito às divindades e de fortalecimento da nossa identidade cultural.”
Lançamento da Cartilha Educativa “Kudiá” e Pockets Shows
Na primeira noite do evento, será lançada a cartilha educativa “Kudiá”, um material rico e detalhado, criado para aprofundar o conhecimento sobre a culinária de terreiro e sua importância litúrgica e cultural. Dividida em capítulos, a cartilha aborda a história social do acarajé, seus significados espirituais nas diferentes nações do candomblé (como Kongo-Angola, Ketu, Jeje e Ijexá), além de explorar o papel da cozinha como um espaço sagrado dentro dos terreiros.
A cartilha conta com entrevistas de figuras importantes do cenário afrobrasileiro, como Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé de Salvador, Mãe Vânia do Amaral (Ialorixá Ile Asé Kalè Bokùn), Iyá Andreia de Oyá (Ialorixá do Ile Ase Omi Ogunsade), Dofono Sogbossi (vodunsi do Hùnkpámè Hùndàngbènà) e Ekedi Iara (Ilé Asé Dan ladejí). As lideranças religiosas entrevistadas, exceto Iyá Vânia Amaral, estarão presentes no evento.
A publicação realizou um mapeamento e entrevistas com vendedoras (es) de acarajé de Belo Horizonte. A cartilha também reflete sobre o impacto econômico da venda do acarajé e as ameaças de apropriação cultural. Além de oferecer receitas tradicionais, ela é uma ferramenta essencial para a valorização e preservação do patrimônio gastronômico afro-brasileiro, servindo como um guia de estudo e reflexão para todos os interessados na cultura afrobrasileira
O seminário contará com apresentações artísticas que prometem enriquecer ainda mais a experiência dos participantes. Na primeira noite, a cantora Maíra Baldaia encerra as atividades teóricas com uma apresentação vibrante. Já no sábado, o público poderá assistir às apresentações culturais da cantora Anárvore e do grupo Afoxé Bandarerê, trazendo a força da tradição musical afro-brasileira para o evento.
Participação e Degustação
A oficina prática de acarajé é um dos momentos mais aguardados do seminário. Durante a atividade, os participantes não apenas terão a chance de aprender o passo a passo do preparo, mas também poderão degustar o acarajé e seus acompanhamentos, vivenciando a experiência completa da culinária de terreiro. “O acarajé não é apenas uma comida, é um símbolo de nossa cultura, de resistência e de amor pela nossa ancestralidade”, finaliza Makota Kinajenu.
O Kudiá Seminário de Comida Afrobrasileira tem o fomento da Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte, através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura no Edital Multilinguagens 2023 (Projeto 0318/2023)
Serviço:Kudiá: Seminário de Comida Afro-brasileira
Data: 18/10 das 18:30 às 21h - Lançamento da Cartilha, Mesa redonda com Lideranças Religiosas e Pocket Show com Maíra Baldaia.
Data: 19/10 das 09h às 12h - Oficina e Degustação de Acarajé e Pocket Show com Anarvore e Afoxé Bandarerê.Local: Centro Cultural Urucuia, Rua W-3, 500 - Pongelupe, Belo Horizonte – MGEntrada: Gratuita (inscrições por aqui: https://forms.gle/XK2L6EqNdPDEVgVN7)
Instagram: https://www.instagram.com/seminariokudia/