Exposição no Palácio das Artes reúne obras de artistas mineiras refletindo a solidão de mulheres negras em espaços de poder
- 01/10/2023
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Fonte: Secult MG
A potência de artistas mineiras se une a variadas linguagens e suportes para falar de um tema que transcende as representações artísticas, na próxima mostra de artes visuais do Palácio das Artes. O Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) e da Fundação Clóvis Salgado (FCS), apresenta a exposição “Quero amar quem acenda uma fogueira comigo às 7 da manhã”, com curadoria da artista e pesquisadora Flaviana Lasan. A mostra ocupa a Galeria Arlinda Corrêa Lima de 7 de outubro a 14 de janeiro de 2024.
Com quase 50 obras de 11 artistas contemporâneas, a exposição tematiza a solidão afetiva, social e na ascendência das mulheres negras, através de pinturas, gravuras (algumas com materiais e suportes como água de feijão, nódoa de banana, terra e papelão), peças de cerâmica, registros audiovisuais e outros recursos. A entrada na Galeria é gratuita, e a exposição tem classificação indicativa livre. A Galeria Arlinda Corrêa Lima fica aberta de terça a sábado, das 9h30 às 21h, e aos domingos, das 17h às 21h.
A proposta da exposição foi ativada a partir de experiências pessoais e conversas vividas pela curadora, envolvendo o não pertencimento e a ausência de representações de mulheres negras nos espaços de poder. Outras inspirações vieram a partir dos encontros com o disco Bom mesmo é estar debaixo d’água, da cantora baiana Luedji Luna, com a escrita da mineira Conceição Evaristo e com o livro Cartas para minha avó, da filósofa Djamila Ribeiro.
O título da exposição evoca questões como os anseios das mulheres, liberdade de escolha, as dinâmicas de trabalho e também a luta conjunta contra o racismo – aqui simbolizada pela fogueira, e presente também na expografia, que trará indícios de carbonização. “Neste título eu induzo um movimento afetivo, mas que trata também de poderes estatais e de condições de vida digna para a mulher negra”, sintetiza Flaviana Lasan.
As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm como mantenedores Cemig e Instituto Cultural Vale, Patrocínio Master da ArcelorMittal, Patrocínio da Usiminas e da Vivo e Correalização da APPA – Arte e Cultura.
As urgências do feminino na arte mineira
Trabalhando a reivindicação conceitual das artes através da configuração e identidade de artistas negras, a exposição dá protagonismo às leituras de mulheres a partir de seus territórios, sejam eles a capital do estado ou cidades do interior de Minas. Integram a seleção as obras de Ana Elisa Gonçalves, Ana Paula Sirino, Danielle dos Anjos, Daiely Gonçalves, Desirée dos Santos, Elizabeth Ramos, Josiane Souza, Maria Auxiliadora, Mônica Maria, Rebeca Amaral e Andréa Rodrigues.
“A importância dessa exposição acontecer em uma galeria do Palácio das Artes está na ruptura coletiva que ela provoca naquele espaço. A novidade é o tratamento desta exposição a partir de um tema que custa caro à mulher negra brasileira – basicamente, custa sua própria vida. Essa é a ruptura coletiva. Reunir 11 artistas mulheres, de variadas gerações, de múltiplas cidades das Gerais, mesmo que em um recorte pequeno, trazendo a multiplicidade de técnicas produzidas e suas percepções amplas, considerando a individualidade de cada uma. É imensurável perceber que há artistas ali que frequentarão pela primeira vez a instituição, através de suas obras”, salienta Flaviana Lasan.
A curadora fala também da relevância desta temática ser abordada e, principalmente, ganhar visibilidade através da arte. “A solidão comunicada não está apenas em obras poéticas, mas faz parte de um sistema econômico e político, e tem ativações que colaboram para manutenção da pobreza e violência para com a mulher negra, base da estrutura brasileira. Desde dados de estupro, até assassinatos cometidos, passando também por diferenças salariais e formas de humilhação. Precisamos tratar a hegemonia midiática e considerar quando e como mulheres negras são trazidas à tona”, destaca.
A atriz e escritora Andréa Rodrigues, que aborda intensamente o tema em suas obras, será parte da exposição através de uma crônica de sua autoria, inscrita na Galeria como uma interface literária da exposição. A obra, criada em 2020, ganhou o título de Paixão Triste, e fala sobre as ilusões diárias e os amores impossíveis que perpassam a vida da narradora, capturando com lirismo a solidão, mote da exposição. “Esse texto surge da necessidade de dizer em voz alta o que por vezes me atormenta. Tem silêncio que grita e eu acredito no som das palavras escritas como expurgo”, reflete Andréa.
Sobre a curadora Flaviana Lasan
Educadora, artista visual e produtora de campo. Licenciada em artes visuais (UEMG) e pós-graduada em Ensino de História e América Latina (UNILA), investiga a história da arte produzida por mulheres e metodologias do ensino de arte nos movimentos sociais, atravessados pelo mercado. Trabalhou em diversas iniciativas independentes com curadoria e produção; em aparelhos artísticos públicos e privados na condição de produtora e educadora pelo Brasil, por mais de uma década. Foi curadora do MAM (Movimento Arte na Maternidade), e está curadora do JUNTA, Cura (Circuito Urbano de Arte) e FAC (Festival Audiovisual de Cultura).
Foto: Danielle dos Anjos